Greenpeace lança âncora em Portugal
O Arctic Sunrise, o mítico navio da Greenpeace, atracou em fevereiro no porto de Lisboa. Isto acontece poucos meses antes de se assinalarem os 40 anos da morte de Fernando Pereira, o fotógrafo e ativista português, que perdeu a vida no naufrágio de outro lendário, o Rainbow Warrior.
Nestes 40 anos, a sua memória acompanhou muitos de nós! Quando aconteceu, eu não tinha idade para compreender totalmente a dimensão desse acontecimento e tudo o que estava por detrás dele: o enorme desafio de defender o planeta que habitamos e de colocar a vida acima dos interesses económicos e políticos. Agora, depois de tantos anos a trabalhar com a Greenpeace, compreendo perfeitamente – e o desafio de o fazer em Portugal torna tudo ainda mais inspirador!
Nestes últimos 40 anos, registaram-se avanços significativos a nível global: na mobilização de cidadania, na investigação e conhecimento, na multiplicação de espaços e organizações de denúncia e na assunção de compromissos políticos.
Portugal tem sido um país de referência em muitas dessas mudanças, como por exemplo; no uso de energias renováveis para a produção elétrica, no fortalecimento de uma cidadania consciente e exigente e na construção de um ecossistema de entidades sociais e ambientalistas, sólido e eficaz.
No entanto, estes avanços globais estão ameaçados e Portugal não está imune à tendência. Assistimos, a nível planetário, ao incumprimento descarado de compromissos, ao ressurgimento de correntes negacionistas que julgávamos ultrapassadas, à restrição do espaço democrático e do direito ao protesto, à vergonha de uma desigualdade crescente e a conflitos que já não esperávamos ver.
E, enquanto tudo isto acontece (e devido a isto), consumimos como se tivéssemos 2,8 planetas e já ultrapassámos sete dos nove limites biofísicos que permitem a vida na Terra. Nas palavras de António Guterres, “a humanidade abriu as portas do inferno”. E já não há muito tempo para as fechar.
Agora, mais do que nunca, a memória de Fernando Pereira – e de todas as pessoas que já não estão connosco por defenderem o meio ambiente – torna-se ainda mais essencial.
Muito tem de mudar, a começar pela redução do nosso consumismo desenfreado, pela interrupção da destruição do planeta e pela aposta num modelo socioeconómico diferente.
E a Greenpeace tem muito a contribuir para essa mudança. Dos 28 países europeus, a organização já estava presente em 21, mas faltava Portugal – um país com a segunda maior Zona Económica Exclusiva da UE, com a quinta língua mais falada do mundo e com uma forte ligação com a Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP).
É por isso um privilégio e uma responsabilidade integrar este projeto em Portugal, atuando na incidência política, no ativismo, na investigação e na nossa forma de protesto pacífico – denunciando e propondo soluções.
Espero que a Greenpeace acrescente valor, consiga gerar mudanças e seja merecedora do apoio e da confiança dos cidadãos e das cidadãs portuguesas, que se queiram juntar a nós nesta jornada.
O caminho começa. Ou continua.